sábado, 1 de outubro de 2011

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ESTUDANTIL DA UFU SOBRE A CALOURADA-UFU (2º SEMESTRE DE 2011).


O conjunto de Centros e Diretórios Acadêmicos que assinam este documento vem tornar público sua posição contrária aos métodos anti democráticos no qual a Calourada desse semestre foi construída pela atual gestão do DCE “Agora só Falta Você”, composta pelos grupos políticos UJS e Kizomba. Um método que exclui a construção coletiva e “atropela” o debate.
Acreditamos que é função do DCE e do conjunto de entidades representativas dos estudantes, construir uma calourada capaz de apresentar esta nova realidade que é a vida universitária, através do olhar dos próprios estudantes. As Calouradas organizadas pelo DCE, D.A´s e C.A´s costumam ser momentos marcantes na trajetória de um estudante universitário e não podemos ser coniventes com posturas que transformam este espaço em apenas um evento festivo que serve para conexão do Triângulo Music. Onde estão os espaços que realmente expressam a vivência universitária na sua riqueza de debates políticos e culturais?
Adeus à Calourada?
Seja você estudante ou trabalhador da UFU, provavelmente já participou, participa ou, pelo menos, ouviu falar da Calourada.
É de se esperar, no entanto, que este evento seja percebido por muitos de vocês como um grande festival comemorativo, que reúne milhares de pessoas para “celebrar”, com muita música, bebida e liberdade, cada novo ciclo semestral, caracterizado principalmente pelo ingresso de novos indivíduos na vida universitária: os calouros.
No entanto, a Calourada não é só festa, embora tenha sido esta a tendência dos últimos anos. Tentaremos então explicar as principais questões que você precisa saber sobre este evento e esperamos que você possa se posicionar de alguma maneira.

O que é, ou deveria ser, a Calourada?
A Calourada é um momento que deve expressar a dimensão cultural dos indivíduos que compõe a universidade através de suas festas e comemorações, mas também é espaço de elaboração e reflexão de idéias, uma oportunidade de se pensar a relação da universidade com os indivíduos que estão dentro e fora dela. Afinal, qual deve ser o objetivo da universidade se não o de promover conhecimento útil à sociedade que a criou?
É um dos primeiros momentos em que o estudante, que acaba de ingressar em seu curso, começa a se familiarizar com o ambiente acadêmico, cultural e político oferecido pela Universidade, portanto, deve ser muito mais do que uma simples jornada de festas e álcool, deve mostrar que a juventude tem disposição para superar o divertimento puro e simples, e combater todas as concepções que nos tornam tão velhos quanto burros, e que nos privam da liberdade.
Além disso a elaboração, a organização e a execução da Calourada deve ser uma tarefa dos próprios estudantes. Perder o controle sobre essa responsabilidade significa perder a capacidade de pensar com coerência e autonomia as necessidades mais relevantes ao universo estudantil. Infelizmente é isso que vem acontecendo na UFU em vários aspectos, inclusive na Calourada.

Como é feita a Calourada?
Tradicionalmente, nas Universidade Públicas, a Calourada é construída pelas organizações estudantis. Estas organizações representam diretamente os alunos de um determinado curso, que são os Centros Acadêmicos (CA) e Diretórios Acadêmicos (DA), que por sua vez são organizadas por uma entidade estudantil central, o Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Estas entidades devem decidir conjuntamente a maneira como a Calourada deve ser feita, e o resultado desta construção deve contemplar tanto as demandas específicas dos estudantes e de seus cursos, quanto as demandas comuns a todos os estudantes no geral. É por isso que, embora não seja tão explícito, o nome adequado da Calourada éCalourada Unificada, já que é o somatório da organização cooperativa entre os DAs, CAs e DCE.
Além disso, o teor político, acadêmico e cultural do evento deve expressar uma concepção crítica da realidade, trazendo um debate que seja atual e ao mesmo tempo próximo aos estudantes, para que estes possam refletir e contribuir com toda a comunidade acadêmica e comunidade externa através das atividade realizadas no evento, que são mesas redondas, debates, oficinas, palestras, mini-cursos, intervenções artísticas, shows musicais, etc., de modo a oferecer um contraponto às tendências que inserem questões importantes para os indivíduos num senso comum geral e banalizante.

O que mudou na última Calourada?
Infelizmente muita coisa mudou, pra pior. Primeiramente não podemos mais considerar como uma Calourada Unificada.  Isso porque o DCE, composto por um grupo político hostil a várias demandas do movimento estudantil crítico e combativo da universidade, insiste em tomar as decisões mais importantes, desconsiderando o debate das outras entidades estudantis e deliberando ações contrárias a todas as concepções históricas e representativas de Calourada que mencionamos anteriormente.
Além disso, os últimos dois anos na UFU foram marcados pela tentativa da reitoria de acabar ou, pelo menos, enfraquecer os eventos culturais dentro da universidade. Isso gerou uma forte mobilização dos estudantes, que conseguiram, apesar de muito desgaste, impedir que as festas fossem proibidas e, mais ainda, conseguiram propor e aprovar um documento que além de autorizar as festas, cria critérios e normas para sua realização.
Mas isso não foi suficiente para resolver o problema das festas, embora tenha sido uma contribuição fundamental do movimento estudantil. O grande desafio dos estudantes passa agora a ser a capacidade de realizar eventos que sejam qualitativamente distintos daqueles que são promovidos de maneira comercial pela cidade de Uberlândia e região. Eventos estes que tem uma orientação de mercado, cujo princípio primordial é a lucratividade em detrimento de uma cultura realmente emancipatória.
Eventos de natureza comercial vinham acontecendo com freqüência na UFU, e o desdobramento disso foi o lamentável caso de violência ocorrido durante uma festa no dia 26 de agosto em que um jovem foi espancado por vários outros, resultando, em virtude disso, na suspensão temporária dos eventos em todos os campi da universidade. Esta situação impõe a nós estudantes a responsabilidade de repensar a forma e o conteúdo das festas, de modo a qualificá-las, para que todos vejam que a universidade pública ainda é um lugar referenciado culturalmente, onde a criatividade e a inteligência resistem à imposição quase industrial de valores, concepções e modos de vida totalmente distorcidos.

Como está sendo construída a atual Calourada?
Neste semestre, em virtude da situação de suspensão das festas, que mencionamos anteriormente, a Calourada é o evento que deve reinserir a rotina de eventos festivos na UFU, portanto deve ser o parâmetro a ser adotado para as futuras festas. Isto significa que qualquer ocorrência grave pode prejudicar a permanência deste tipo de confraternização na UFU, acarretando a proibição definitiva das festas.
Com esta responsabilidade estavam os DAs, CAs e DCE quando tiveram de planejar a Calourada, no entanto, não houve respeito por parte da direção do DCE, composta pelos grupo político-partidários UJS (PCdoB) e KIZOMBA (PT), em relação tanto à orientação de qualificar as festas, quanto de definir o teor político e cultural da Calourada.
Isso significa que a Calourada UFU 2011 - 2º Semestre, é uma construção unilateral, antidemocrática, excludente e extremamente rebaixada do ponto de vista político-cultural. Para demonstrar a completa negligência da direção do DCE resgataremos algumas informações importantes.

Um histórico sobre os fatos:
No dia 13 de Junho de 2011 foi realizado um CONDAS (Conselho de Diretórios e Centros Acadêmicos) no qual houve a deliberação que no dia 26 do mesmo mês haveria uma nova reunião para discutir a Calourada 2011/02, para que essa fosse feita de modo democrático, respeitando a construção coletiva com as demais entidades e estudantes. Esta reunião, entretanto, proposta para o fim do mês de Junho, nunca ocorreu, sendo a próxima reunião realizada apenas no dia 02 de  setembro . Nesta reunião a atual gestão do DCE encaminhou uma data para a Calourada sem respeitar a posição dos Diretórios e Centros Acadêmicos presentes, onde está a “democracia” que eles afirmaram existir?
Foi proposto pelo DCE que a Calourada ocorresse entre os dias 21e 24 de setembro, justificando que essa era a única data possível para a realização do evento. Os Diretórios e Centros Acadêmicos analisaram que o prazo para construção da Calourada estava muito curto, pois o evento aconteceria em menos de duas semanas após a reunião do conselho, com isso ficaríamos prejudicados para entrar em contato e conseguir palestrantes para as atividades e também com a divulgação da Calourada.
No entanto, foi encontrado um consenso entre os DAs, CAs e DCE de que a Calourada ocorresse entre os dias 28 de setembro à 2 de outubro, adiando o tempo de construção em uma semana a mais. Porém vários DAs e CAs foram surpreendidos ao constatar que o DCE já havia idealizado, e preparado toda a Calourada às escondidas e que não havia mais espaço para que nenhuma entidade propusesse modificações e contribuições. A receita de bolo já estava escrita e o bolo estava no forno.
As surpresas não pararam por aí. O DCE além de desrespeitar de maneira autoritária as decisões das entidades de base, faz questão de divulgar em todos os cantos da Universidade o seu projeto de Calourada que recebe apoio de empresas privadas descaracterizando totalmente os princípios de uma Universidade Pública.

Por que esta Calourada não nos representa?

1) A forma de ingerência em que a calourada foi construída, não priorizando uma construção coletiva. Praticamente a proposta do DCE foi colocada para o conjunto de D.A´s e C.A´s "goela a baixo" sem margem para nenhuma proposição; nos restringindo apenas a proposição das atividades elaboradas pelas próprias entidades e organizações estudantis a moda do "cada um em seu quadrado". Muitas das deliberações do CONDAS não foram acatadas e foram atropeladas;
2) Pelo não concordância com o projeto político da calourada. Percebe-se claramente o projeto político da calourada expresso pela atual gestão do DCE (UJS/KIZOMBA) em que prioriza em sua divulgação atividades festivas que inclusive vai na contra mão das discussões acumuladas sobre o assunto do caráter cultural das atividades festivas, suas finalidades, etc. Além disso as atividades dos D.A´s e C.A´s colocam-se como secundárias na divulgação não incorporando-se ao principal material gráfico do evento;
3) Pela não concordância com a temática. A temática da calourada foi no mínimo, distorcida, uma vez que o objetivo escrito no material de divulgação anuncia que a principal questão da calourada é discutir a "expansão" que o  REUNI proporcionou para os jovens no sentido positivo do projeto. Isso não foi consenso no CONDAS e não foi a temática deliberada que estava relacionada ao Trabalho, assistência estudantil e acesso a universidade pública.
4) Pela não concordância sobre as formas de financiamento. A calourada está vinculada a uma rede de patrocínio relacionada ao setor privado que inclusive transforma o evento em uma espécie de conexão Triângulo Music, oferecendo promoções de ingressos e outras premiações. Por trás dessa conexão está o grupo Algar/CTBC. Isso descaracteriza a nossa calourada como uma atividade do Movimento Estudantil para os estudantes e feita por estes. Isso é dar abertura para o reino da mercadoria dominar tanto em seus signos quanto também na ideologia e formas de retorno financeiro veiculadas a propaganda gerada no evento. Acreditamos que isso não condiz com os objetivos de uma universidade pública. Lembrando também que existe o patrocínio de uma empresa de cerveja que ajuda o avanço moralista de uma crítica aos estudantes em que somos tachados como os apologetas da alcoolemia.

Uma outra Calourada é possível!
Acreditamos que é função do DCE e do conjunto de entidades representativas dos estudantes construir uma calourada capaz de apresentar esta nova realidade, que é a vida universitária, através do olhar dos próprios estudantes. As Calouradas costumam ser momentos marcantes na trajetória de um estudante universitário e não podemos ser coniventes com posturas que transformam este espaço em apenas um evento festivo que serve para conexão do Triângulo Music. Onde estão os espaços de debates que realmente expressam a vivência universitária na sua riqueza de debates políticos e culturais?
Precisamos nos contrapor à tendência massificante e alienadora que tem caracterizado as Calouradas, principalmente nas universidades particulares, e que agora tem atingido a própria UFU, tornando o espaço público num lugar do marketing e dobusiness. Um retrocesso histórico tanto para o movimento estudantil quanto para a Universidade Pública como um todo.
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